quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

#00 - O Plano: Independência Financeira (FIRE) através de alavancagem

Salve, salve, queridos amigos da finansfera brasileira!

É com muito prazer que hoje eu dou o pontapé inicial no meu blog pessoal, no qual eu pretendo compartilhar com todos vocês um pouco da minha jornada em busca da tão sonhada Independência Financeira.

Após ler e acompanhar diariamente vários blogs (muitos dentre os quais estão listados no blogroll), decidi participar mais ativamente da comunidade FIRE no Brasil, entretanto de uma forma um tanto quanto não ortodoxa... rsrs. Vocês entenderão.


• APRESENTAÇÃO


Antes de mais nada quero aqui fazer uma breve apresentação sobre esse que vos fala. Sou funcionário público, na faixa dos 20-25 anos, solteiro, moro sozinho, sem filhos. Comecei na vida dos investimentos por volta de 2016, ainda que timidamente e sem muito conhecimento sobre os investimentos. Mas fui evoluindo e hoje possuo um patrimônio pessoal que ainda é muito abaixo do que considero ideal, mas sigo tentando aumentá-lo.


• O PLANO

Quando se fala em FIRE, o principal plano dos aspirantes é o Buy and Hold: você adquirir ações de boas empresas paulatinamente ao longo da vida até formar um patrimônio suficiente que te permita viver da renda passiva que esse patrimônio lhe proporcionar. Essa é a estratégia que muitos seguem, eu inclusive (até então).

Acontece que estamos passando por um momento de muito otimismo na economia, o que acaba por refletir na bolsa e no valor das ações de muitas das empresas listadas. Muitos especialistas acreditam que estamos vivendo o que pode ser o início de um grande ciclo de valorização, que pode durar alguns anos. É fato que a Bolsa brasileira tem se valorizado nos últimos anos: saímos dos 72 mil pontos lá em 2016 para 112 mil pontos (no momento em que escrevo este post).

Eu, particularmente, acredito que ainda temos uma estrada muito grande para percorrer nesse aspecto, contando que menos de 1% dos brasileiros investem em ações, o que tem mudado com a crescente redução da nossa taxa básica de juros (que ontem acabou de ser cortada mais uma vez, a 4,5% a.a.). E como uma forma de aproveitar para surfar nessa onda de valorização da Bolsa eu precisaria, de certa forma, já estar com o capital alocado nas ações que eu gostaria.

Como conseguir alocar uma quantia razoável de dinheiro imediatamente se você não dispõe de recursos suficientes para tal? Você pode ganhar na loteria (confesso que até tento, mas não consegui ainda), receber uma herança gorda de uma tia distante (não tive essa sorte) ou investir com o dinheiro alheio, prática conhecida por "alavancagem financeira".

O princípio básico da alavancagem financeira, para os que desconhecem, é você conseguir dinheiro emprestado a uma taxa e investir esse dinheiro de forma a conseguir uma rentabilidade superior à taxa do empréstimo. Dessa forma, você pagará o empréstimo e ainda ficará com uma parcela de lucro sobre a operação. A prática é muito comum, principalmente entre empresas, as quais adquirem empréstimo para financiarem seus projetos de expansão e desenvolvimento de produtos/soluções.

Porém quando se fala de alavancagem financeira, muitos investidores tem calafrios na espinha. E de fato devem ter. Como diria Warren Buffet “There’s only three ways that a smart person can go broke…‘liquor, ladies, and leverage.” (Há apenas três maneiras de uma pessoa inteligente ir à falência... álcool, mulheres e alavancagem". Ironicamente, o próprio Mago de Omaha construiu sua riqueza com dinheiro de terceiros.

Entretanto, no meu caso em particular, vejo a alavancagem financeira como uma forma de potencializar os ganhos e encurtar o caminho até a minha independência financeira. Isso, claro, de acordo com as premissas sobre as quais se baseiam meu plano e de acordo com a minha realidade de vida atual. Ressalto: não estou aqui encorajando absolutamente ninguém a fazer o mesmo que eu farei. Escrevo aqui apenas para relatar como se desenvolverá o meu projeto especificamente. Até porque, tenho plena consciência que 99% das pessoas que acompanharão esse projeto não possuem as mesmas peculiaridades que eu possuo.


• VAMOS AOS NÚMEROS...

Por ser funcionário público e possuir um risco de crédito baixo, além de um bom relacionamento com meu banco, consigo condições de financiamento e empréstimos diferenciadas da maioria. Com a queda da taxa SELIC, o juros do empréstimo pessoal também caiu, apesar de ainda ser relativamente alto.

A ideia de tomar dinheiro emprestado no banco para investir aconteceu quando me foi oferecido um empréstimo consignado em folha de pagamento a uma taxa de juros de 1,19% a.m. (CET), taxa essa que é inferior à rentabilidade que eu venho obtendo na minha carteira desde 2016. Logo, faria sentido, do ponto de vista financeiro tomar emprestado uma quantia maior de dinheiro a 1,19% a.m. para investir em ações cuja rentabilidade no longo prazo poderá ser superior.


E assim, o fiz. Num ato de coragem (ou de insanidade rsrs) fiz o empréstimo de R$ 100.000 no banco, a uma taxa de 1,19% a.m. em 96 parcelas de R$ 1.750.

"Porquê 100 mil? Como você chegou nesse número mágico?"

Não há nenhuma ciência por trás do valor. Apenas pensei em um valor de parcela que coubesse no meu orçamento de forma que eu tivesse convicção de que poderia arcar com o pagamento mensal sem comprometer minha sobrevivência.

A ideia é mostrar como esse dinheiro aplicado irá render ao longo dos próximos 8 anos e, se tudo der certo, me ajudar a conseguir a tão sonhada independência financeira.


• PREMISSAS DO PLANO

Quando eu disse que não recomendava que ninguém fizesse o que eu vou fazer é porque sabia que as premissas do meu plano não se adequam à realidade da grande maioria das pessoas, as quais serão detalhadas abaixo:

#1 - Ser funcionário público estável: O fato de ter estabilidade no serviço público me faz ter a convicção de que eu não perderei meu emprego nos próximos anos e que meu salário cairá na minha conta religiosamente ao final de cada mês. Claro que existe a remota possibilidade de ser demitido ou de o salário atrasar, mas se isso vier acontecer à União, significa que a economia do país já entrou em colapso há muito tempo, afetando de forma generalizada todo e qualquer investimento, com ou sem alavancagem.

#2 - Não depender da rentabilidade do investimento para pagar o empréstimo: Um fator que eleva o risco da alavancagem financeira é quando você cria a expectativa de uma rentabilidade suficiente para que você possa pagar as parcelas do empréstimo no longo prazo, pois caso isso não aconteça, você deixará de pagar as parcelas e o valor da dívida irá virar uma bola de neve capaz de te destruir financeiramente por anos. Eu não dependerei da rentabilidade da carteira para pagar o empréstimo. As parcelas serão pagas com uma parcela do salário (com folga, inclusive).

#3 - Não ser forçado a liquidar a operação a preços desfavoráveis (margin call): Uma das formas de se fazer alavancagem financeira é operando com a margem que as corretoras oferecem (a um custo mais baixo que um empréstimo pessoal). Acontece que essa operação traz um risco inerente: se o preço das ações caírem além de um certo ponto você é obrigado a: I) depositar mais fundos na conta da corretora para cobrir a margem; II) liquidar suas ações a valor de mercado para garantir a margem da corretora. No caso da opção I, enquanto você puder adicionar fundos à conta da corretora, você estará à salvo, entretanto é um risco muito grande que não estaria disposto a correr. Já o II caso é o pior de todos, a operadora dar um "margin call" significa que você terá suas ações liquidadas a um preço inferior ao de aquisição e terá que amargar o prejuízo da operação. Nenhum dos dois casos se enquadra na minha situação. As ações podem despencar 100% que não serei forçado a vendê-las e realizar o prejuízo. Claro, que existe a hipótese de acontecer uma catástrofe na minha vida e eu depender do dinheiro e não me ver em outra saída que não seja a venda das ações ao preço que for para arrecadar fundos. É um risco a se correr.

#4 - Previsibilidade do fluxo de desembolso: Um dos grandes riscos de você fazer a alavancagem financeira é você ser surpreendido com uma alteração das regras do jogo enquanto a partida estiver rolando. Leia-se: aumento inesperado do custo da operação. No meu caso, particular, os próximos 96 desembolsos estão fixados desde já: R$ 1.750. A parcela é fixa ao longo do tempo e não há possibilidade de vir a ser elevada. Isso significa que eu posso ter maior segurança de que o custo da parcela não vai afetar de maneira surpreendente o meu orçamento mensal.

#5 - Renda crescente ao longo do tempo: Essa premissa complementa, de certa forma, a premissa anterior. Como funcionário público, tenho todo um plano de carreiras à percorrer, de forma que meu salário (nominal) é crescente. Por conta da inflação, e do valor fixo das parcelas, o tempo está a meu favor, uma vez que a parcela de R$ 1.750 hoje com certeza não terá o mesmo peso no orçamento de uma parcela de R$ 1.750 daqui a 5, 8 anos... Num cálculo aritmético simples: 96 x R$ 1.750 = R$ 168 mil. Esse seria o valor total dos desembolsos ao longo dos próximos 8 anos. Entretanto, se considerarmos uma inflação anual de 4,5% (teto da meta do BACEN), o valor presente do total de desembolsos cairia para algo em torno de R$ 141 mil. Logo, temos renda crescente de um lado e valor (real) da parcela decrescente ao longo do tempo.

#6 - Tolerância a riscos: Eu me considero uma pessoa bastante tolerante a riscos. Não me abala ver as cotações caindo durante o dia-a-dia pois sei que meu foco é no longo prazo. Na verdade encaro o momento de queda como uma oportunidade para comprar mais ativos por um preço menor (contato que a queda não advenha de uma deterioração do valor do negócio, claro). As minhas melhores aquisições de ações/FIIs até hoje foram em momentos de grandes quedas dos ativos. Portanto esse é um "mindset" que eu tenho bastante internalizado já e não afetará meu projeto.


• RISCOS DO PLANO

É óbvio que um plano que envolva alavancagem financeira inerentemente acarretará riscos, dos quais eu estou ciente e decidi que é "ok", consigo aceitá-los de forma tranquila.


#1 - Perder o emprego e não ter como pagar o empréstimo: Bom, nesse caso haveria duas hipóteses: a) o valor dos ativos ser suficiente para liquidar todo o empréstimo; b) o valor não ser suficiente eu ficar sem ativos e com dívida. Como já ressaltado acima, essa hipótese é bastante remota, portanto, não é algo que me preocupe.

#2 - Necessitar reduzir o custo de vida e precisar do valor da parcela no orçamento mensal: é uma hipótese provável, já que não sabemos o que o futuro nos reserva. Nesse caso poderia vender todos os ativos, liquidar o empréstimo e realizar lucros ou liquidar o que desse para liquidar, caso o saldo líquido seja negativo, realizar prejuízos e continuar com um saldo devedor a quitar, o que poderia ser feito com a renda do mês até a quitação integral.

#3 - Não obter rentabilidade superior ao custo do empréstimo: Esse realmente é o risco mais provável de acontecer. É chegar ao final dos 96 meses e constatar que a rentabilidade da carteira não foi suficiente para cobrir os custos do empréstimo ao longo do tempo, de forma que teria sido melhor investir o valor mensal equivalente ao da parcela e não ter arcado com os custos da dívida, afinal, bater um custo de 1,19% a.m. pode não ser uma tarefa tão fácil. O resultado só o tempo dirá.

#4 - As ações chegarem a valor R$ 0: Risco dos mais remotos que há, mas se, mesmo com a diversificação que pretendo colocar em prática, todas as minhas ações simplesmente perderem totalmente seu valor, terei perdido R$ 268 mil (R$ 100 mil do valor inicial dos ativos + R$ 168 mil do somatório de todas as parcelas). Com certeza seria um golpe duro, mas que não me levaria à falência.


• CONSIDERAÇÕES FINAIS

Creio que esgotei todos os pontos que precisam ficar claros para vocês leitores. Se, por um acaso, recordar de mais algo, editarei o post, que ficará para futuras leituras de novos visitantes.

Possuo uma carteira de investimentos à parte da que postarei aqui que possui cerca de R$ 53 mil, com outros ativos e outras características, que será a carteira na qual continuarei aportando nos próximos meses, mas que não fará parte do escopo desse blog por enquanto. O foco será na carteira que será montada com o valor do empréstimo, até para que eu possa mensurar com maior precisão o quanto o plano estará ou não valendo os custos.

O valor de R$ 100.000 foi investido no mês de setembro, portanto, já tenho alguns resultados para mostrar, os quais serão feitos nos próximos posts, com o fechamento retroativo dos meses de setembro, outubro e novembro. Devo fazer isso ainda nesse final de semana. Por ora, fiquem com o resumo da empreitada no momento "zero":

Total da carteira: R$ 100.000
Saldo devedor do empréstimo: (R$ 100.000)
Valor total das parcelas pagas: R$ 0
Grau de alavancagem financeira: 1,0x

Valor líquido da carteira: R$ 0



Espero vocês nas próximas postagens!

14 comentários:

  1. Muito interessante sua estratégia, apesar de ser extremamente ariscada e corajosa. Mas pelo que vi vc já está ciente de todos os riscos e já planejou tudo muito bem.

    Eu simplesmente não consigo deitar na cama e dormir tranquilo sabendo que tenho alguma dívida pra pagar, fico sem paz mental e iniciativa pra investir.

    O bom da finansfera é ver cada um buscando a IF à sua maneira!

    Irei te acompanhar e aguado os posts com resultados.

    Boa sorte na sua jornada! Abraços do Engenheiro Mendigo!

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    1. Com certeza ter uma dívida no orçamento não é uma tarefa fácil para a maioria das pessoas. É um "peso mental" muito grande mesmo. Mas consigo conviver tranquilamente com essa ideia por enquanto. Numa situação em que tivesse filhos, esposa, etc, aí já começaria a ter mais receio de correr tantos riscos. Acabei de postar o primeiro fechamento mensal, dá uma olhada! Abraços, meu amigo.

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  2. Caramba, post muito bem estruturado, ótimo início.

    Assim como o EM acima, eu também não suporto dívidas. Tomara que seu plano dê certo!

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  3. Oi, eu li direito? Vc pegou grana a 1.2% ao MES para investir na bolsa? Este é seu plano FIRE ? Meu pai do céu ! - vai precisar dele ! Se o AA40 ler isso ele infarta.

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    1. Com certeza ele me mataria. Por isso já convidei ele para dar uma passada aqui ahahahahah.

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    2. hahaha IE, como sempre falo, não existe errado em investimentos, existe estratégia e nível de risco que se deseja assumir. Até concordo com o Anon ai, eu jamais faria uma coisa dessas a menos que estivesse muito desesperado e tlvz nem assim. Será interessante acompanhar seu progresso. Abcs

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    3. Boa, AA40! Realmente cada um tem um nível de tolerância aos riscos e isso impacta na estratégia que cada um assume. É um prazer tê-lo aqui no blog, você é um ícone na nossa finansfera. Abraços!

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  4. Amigo, sou funcionário público a 20 anos, já invisto a muito tempo, e ao longo desse tempo, passei por dois períodos interessantes da bolsa, vendo basicamente dois períodos de bull market e dois crashs. Lembro na época de bull market, pelos idos de 2004 ou 2005 eu acho..colegas que fizeram o que você está fazendo. Resumo da ópera, se deram mal.
    Desejo boa sorte para você, mas eu particularmente não faria isso, ao invés de pagar a prestação que você assumiu, aportaria mensalmente esse valor.
    Tenho bastante convicção de que resultado após 96 meses deverá ser mais satisfatória.
    Enfim, minha opinião.

    Boa sorte.

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    1. Agradeço desde já o seu conselho, anom. Com certeza nos próximos 8 anos passaremos por momentos de baixa e de bull. Mas espero que no fim das contas a estratégia produza melhores resultados que o aporte convencional. Esse será o desafio. Abraços e Feliz Ano Novo!

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  5. Confesso que já me imaginei fazendo essa loucura rsrs
    Na minha opinião o mais importante são os aportes constantes, sobrará grana para aportar ?
    Um exemplo que eu sempre gosto de usar é investindo o valor da parcela em juros compostos:
    1.750 CHS PMT, 96n, 0,80i, FV = seu valor do futuro será de incríveis 251.316,33 reais (1/4) do tao sonhado milão.

    Nesse exemplo usei uma taxa bem generosa 0,8 ao mês, você fez esse tipo de analise ?

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  6. Fala, Sortudo. Obrigado pela contribuição. Sim, cara. Esses R$ 1.750 representam uma parcela da minha capacidade de aporte mensal. Ainda terei um dinheiro livre pra investir de forma "normal".

    Quanto à análise, fiz diversas simulações sim. Realmente o custo do dinheiro é alto, mas acredito que no longo prazo (8 anos) minha carteira pode bater esse custo e fazer o plano valer a pena (pelo menos até agora tem batido).

    Abraços!

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  7. Olá IE,

    Vim atrás do primeiro post do blog para entender o motivo de você não ter quitado a divida antes de começar a investir. E que surpresa. Bem ousado e arriscado o teu plano.

    Pergunta: você pensa em quitar essa divida antes das 96 parcelas?

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    1. Muito obrigado pela sua presença, Tituba! Só acabei vendo seu comentário agora porque passei um tempo meio afastado do blog. Mas respondendo a sua pergunta: até o momento eu não penso em quitar a dívida antes do prazo. Já poderia tê-lo feito, inclusive, com um pequeno lucro, ainda, mas não é esse o propósito. A parcela da dívida não é significante no meu orçamento e, por ora, não vejo sentido em quitá-la. Mas isso pode mudar até o término do prazo. Só o tempo dirá. Abraços!

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